Jovem investigador português desenvolve nova estratégia para "matar" tumor à fome
Gonçalo Bernardes e a sua equipa criaram uma possível nova terapêutica que pode ser menos dolorosa e mais eficaz. E pode ser aplicada a vários tipos de cancro
Texto de Renata Silva/Projecto Ciência 2.0 • 02/02/2012 - 10:11
É quase como um correio de droga. Trata-se de anticorpos munidos de uma substância com uma missão: chegar aos vasos sanguíneos do tumor e destruir as células cancerígenas.
Experiências realizadas mostraram que este método tem resultados terapêuticos no combate ao cancro. É o que revela o estudo de Gonçalo Bernardes, 31 anos, doutorado em Química Biológica pela Universidade de Oxford, e da sua equipa, publicado recentemente na revista científica "Angewandte Chemie".
Quando chega ao destino - os vasos sanguíneos que circundam o tumor -, a droga é libertada através de um estímulo químico, exercendo uma função terapêutica. Chegando a este local, esta bloqueia a entrada de nutrientes que alimentam o tumor. A novidade aqui não está na ideia de matar o tumor à fome, que já é uma abordagem sobejamente explorada pela comunidade científica, mas sim na estratégia desenvolvida por Gonçalo Bernardes e a sua equipa.
Drogas conjugadas com anticorpos
“Os anticorpos que criámos são específicos para um receptor que está presente nos novos vasos sanguíneos e isso traz uma grande vantagem. É que estas drogas conjugadas com anticorpos podem ser virtualmente usadas para o tratamento de qualquer tipo de tumor sólido. A formação de vasos sanguíneos é uma característica comum a todos os tumores” explicou ao P3 Gonçalo Bernardes.
O facto de ser específico para os vasos sanguíneos apresenta ainda uma outra vantagem. “Os mecanismos de resistência do tumor vão ser muito menores do que no caso dos anticorpos específicos para receptores que estão na superfície das células cancerígenas, pois estas podem estar em constante mutação”, salienta o investigador que, há cerca de dois anos, trabalha em Zurique.
Uma terapia menos dolorosa
“Existe uma esperança em se conseguir um tratamento alternativo mais específico, mais eficiente e menos doloroso para quem tem cancro”, concretiza. Contudo, não é possível prever quando (e se) a droga poderá ser aprovada para estudos clínicos.
Seria, portanto, uma alternativa à quimioterapia. Nesta, o que acontece é que a droga usada não distingue as células saudáveis das células cancerígenas, limitando a quantidade que é possível utilizar e prejudicando a eficácia do tratamento.
A investigação, feita com base em testes com ratinhos, trouxe como resultados um efeito terapêutico, em que são suprimidas as células cancerígenas. Contudo, são necessárias mais investigações, dado que o cancro não é eliminado.
Próximos passos? “Queremos modificar a droga tornando-a mais potente, para que tenha uma capacidade mais forte para matar as células tumorais e testá-la em ratinhos e ver qual é a reacção em diferentes tipos de tumor. Com esta conjugação de droga e tipo de anticorpos, pensamos que talvez possamos chegar a efeitos terapêuticos superiores aos que conseguimos ter com o modelo actual”, responde Gonçalo Bernardes.
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