Como é que ninguém se lembrou de estudar os cães? São eles que têm o segredo da felicidade.
No dia das tempestades dois cães corriam, doidos de tão contentes, pela praia. Perseguiam as farripas de espuma do mar.
Ao restaurante onde estávamos a almoçar chegaram dois amigos com dois cães igualmente bem-dispostos. Com uma sincronia olímpica estavam os dois a sorrir e a olhar fixamente para os donos. "Estão na expectativa", explicaram-nos.
E era verdade. Acreditavam que, no futuro imediato, haveria petiscos para eles. Estavam com as duas pessoas de que mais gostam no mundo, à espera de comer qualquer coisita boa. Como é que não poderiam estar optimistas?
"Nós não somos assim", disse um dos seres humanos. Pois não. Nós somos neuróticos. Pensamos sempre que poderíamos estar melhor: poderia ser Verão; poderíamos ser mais novos; poderíamos ter mais tempo para estarmos uns com os outros.
Os cães nunca pensam nessas merdas. Não perdem tempo ou energia mental a contemplar alternativas. Estão cem por cento no aqui e no agora. Acham que as condições actuais são excelentes, que têm imensa sorte de estar ali e que tudo indica que as coisas ainda vão – inconcebivelmente – melhorar.
Como é que ninguém se lembrou de estudar os cães? São eles que têm o segredo da felicidade. Sabem amar como ninguém e fazem a festa toda com os pequenos gestos de amor que recebem das pessoas que amam.
Duas gaivotas palermas divertiam-se a desafiar a ventania, fingindo que estavam imóveis, suspensas por dois fios. Desprezavam a alegria dos cães. Mas faziam mal.
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