quarta-feira, 23 de março de 2011

Ontem faleceu Artur Agostinho

O comunicador foi homenageado com o Prémio Mérito e Excelência nos Globos de Ouro do ano passado
O comunicador foi homenageado com o Prémio Mérito e Excelência nos Globos de Ouro do ano passado
É fácil confundir a biografia de Artur Agostinho com a história da rádio em Portugal. Ou com a história do futebol. Ou da televisão. Ou do cinema. Primeiro, foi locutor amador, num tempo em que a televisão ainda não existia. Depois, com 25 anos, entrou para a Emissora Nacional.

Na rádio, Artur Agostinho foi responsável pelo arranque do jornalismo desportivo. Tornou-se voz inconfundível nos relatos de futebol. Foi através dele que chegaram aos portugueses os golos de Eusébio no Mundial-1966. E sempre que havia algum desaire com a selecção nacional, até as pedras da calçada choravam. "Era como se se tivesse abatido sobre o povo português a pior das tragédias", recorda Ribeiro Cristóvão, jornalista da Rádio Renascença (RR), com quem Artur Agostinho trabalhou nos primórdios do desporto da RR, entre 1980 e 1983.

Artur Agostinho tinha acabado de regressar a Portugal, a seguir a um exílio de quatro anos no Brasil, depois de ter sido preso, a seguir ao 25 de Abril, acusado de compactuar com o antigo regime.

No Brasil, deu aulas, dirigiu um jornal português e entrou para a Rádio Globo, de onde trouxe uma nova maneira de fazer jornalismo desportivo. Foi ele quem importou, por exemplo, a moda dosanúncios cantados aos comentadores. "Ainda não existia o jornalismo desportivo na Renascença, pelo menos de forma autónoma. Foi aí que surgiu o "Bola Branca" e passámos a ser a rádio mais ouvida. A certa altura, ele foi a rádio", acrescenta Ribeiro Cristóvão. Pelo meio, Artur Agostinho ainda deixou uma marca inconfundível nos relatos da Volta a Portugal em bicicleta.

Do desporto, passou à informação. Da informação passou ao teatro na rádio. Da rádio, passou à televisão. Tornou-se figura assídua nos ecrãs nacionais desde o começo das transmissões, em 1957. Foi comentador, apresentou o primeiro concurso português - "Quem Sabe, Sabe" - e foi actor em séries como "Ana e os Sete" (2003) ou "Casa da Saudade" (2000). Antes, fez dupla com Camilo de Oliveira na série "O Senhor que se Segue". Da televisão, Artur Agostinho passou ao cinema. Contracenou com Amália no filme "Capas Negras" (1947). Mas do currículo de actor constam ainda filmes como "O Leão da Estrela" (1947) ou "Cantiga da Rua" (1950), entre outros - em que contracenou com Laura Alves, Milú ou António Silva. Mais tarde, daria continuidade à carreira de actor com participações em novelas.

Pelo meio, Artur Agostinho ainda teve tempo para "amar" o Sporting e dirigir o jornal "Record", entre 1963 e 1974. "A família sportinguista está mais pobre", referia ontem uma nota da Associação de Adeptos Sportinguistas, que classificava Artur Agostinho como "um dos mais emblemáticos sportinguistas de todos os tempos". Já António Magalhães, director-adjunto do "Record", sublinhava, à Lusa, a tenacidade do comunicador: "Nunca perdeu o espírito jornalístico que o lançou na área", disse. Além de tudo, o radialista ainda escreveu vários livros, como os romances"Ninguém morre duas vezes", "Abutres" ou "Bela, Riquíssima e, além disso, viúva".

Artur Agostinho, que foi entrevistado há duas semanas por Manuel Luís Goucha, foi homenageado no ano passado na XV edição dos Globos de Ouro da SIC com o Prémio Mérito e Excelência. Em Dezembro, três dias depois de fazer 90 anos, recebeu, das mãos de Cavaco Silva, a comenda daOrdem Militar de Sant''Iago da Espada. Artur Agostinho comemorava então 72 anos de carreira - sempre dividido entre a "família da comunicação social" e os "rapazes do futebol". No final, no Palácio de Belém, deixou um recado aos amigos do Facebook: pediu desculpa por não poder "passar o tempo todo" a falar na internet. Sobre a vida e a carreira, limitou-se a dizer: "Não tenho reclamações a fazer." Afinal, fez sempre tudo o que gostou.

Artur Agostinho morreu ontem, aos 90 anos, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa - a mesma cidade onde nasceu, no dia de Natal de 1920. Hoje, às 14h15, realiza-se uma missa de corpo presente na igreja S. João de Deus, seguida do funeral, que sairá para o cemitério de Benfica.
(retirado da net)

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