quarta-feira, 28 de março de 2012



Tudo começa com uma dor no estômago, que lembra mais uma torcedura. Quando se torna mais forte, é sentida nas últimas costelas à direita. Mas não pára por aí. Esse desconforto diminui e aumenta de intensidade, como uma cólica, e acaba se irradiando pelo abdômen superior e pelas costas. Depois vêm enjôo e vômito. O próximo passo é sair correndo, ou melhor, ser levado às pressas para o pronto-socorro mais próximo. Afinal, a esta altura, a dor torna-se insuportável.
Depois da crise controlada, os médicos investigam quais são as causas mais prováveis que a desencadearam.
E é com uma ultra-sonografia abdominal que o diagnóstico descar ta problemas em outros órgãos e con clui: cálculos na vesícula biliar. Este quadro doloroso, que costuma ainda apresentar febre (pode haver infecção) e pele e olhos amarelados (icterícia), não é muito difícil de acontecer, já que de 10% a 20% de pessoas entre 35 e 65 anos têm cálculos na vesícula.
"Cálculo biliar afeta mais a mulher e algumas das possíveis causas são a síndrome plurimetabólica (descontrole hormonal em vários órgãos), a obesidade, o efeito sanfona (aquele engorda e emagrece constante), a idade e a presença de diabetes. Na maioria das pessoas, estas pedras são assintomáticas e o paciente só vai saber que tem o distúrbio quando elas obstruem parcial ou totalmente as vias biliares, causando dor", explica o gastroenterologista Vitório Luiz Kemp, de São Paulo.
Cuidado para não confundir problemas de fígado com de vesícula. "Geralmente as pessoas acham que estão passando mal, com diarréia, dor de cabeça, enjôo e a pele e o branco dos olhos meio amarelados, porque o fígado não está cumprindo seu papel, mas, na realidade, este órgão dá poucos sintomas.
O que acontece realmente é que a vesícula não está funcionando como deveria", informa o médico.
Como funciona A vesícula biliar é um órgão pequeno, no formato de uma pêra, que fica localizado embaixo do fígado. Ela é a responsável por armazenar a bile, um líquido esverdeado produzido pelo fígado, que aumenta a solubilidade de gorduras para o organismo absorver com mais facilidade as vitaminas vindas dos alimentos e, ainda, facilita o trânsito intestinal. Funciona, a grosso modo, como um "detergente" do corpo, quebrando as gorduras que ficam presas no intestino. Depois dessa "limpeza", o que não vai ser aproveitado é jogado fora, neste caso, com as fezes.
Então, sempre que se come alguma coisa, a vesícula é encarregada de jogar a bile, fazendo pequenas contrações, no duodeno, que é a primeira parte do intestino, para a digestão acontecer sem nenhum mal-estar.
É lógico que, em refeições pesadas com gorduras em excesso, o trabalho vai ser bem maior. Mas se isso não for freqüente, a bile executa o trabalho direitinho. Isto é, quando não há uma pedrinha no caminho.
Afinal, por que a vesícula é assim tão sensível à formação de cálculos biliares? "Dentro dela estão concentrados gorduras e sais biliares. Se houver qualquer instabilidade (alteração) nesta solução, começam a ser formados os cálculos, que podem ficar tranqüilamente guardados ali por anos sem causar problemas ou, então, dependendo do tamanho, passar pelas vias biliares, causando um mal-estar dolorido, mas passageiro, ou, simplesmente, obstruir o canal, quando acontecem as cólicas, vômitos e febres", explica o gastroenterologista Vitório Luiz Kemp.



Limpando a área
O tratamento para os problemas de cálculo na vesícula podem ser feitos de várias maneiras. Uma é com medicamentos que ajudam a dissolver a solução dentro da vesícula, evitando a formação de pedras. É um tratamento que leva de seis meses a um ano, é caro e nem sempre resolve o caso. Existe também a tentativa de eliminação das pedras com ondas de choque - chamada de litotripsia -, semelhante ao tratamento para a destruição de pedras nos rins.
Mas a remoção cirúrgica da vesícula, ou colecistectomia, é a opção escolhida pela maioria dos médicos, depois de o paciente ter passado por uma bateria de exames, sendo o principal e o mais decisivo a ultra-sonografia. Só assim o distúrbio é efetivamente erradicado. E essa escolha também é feita porque as cirurgias convencionais - que até alguns anos atrás deixavam uma cicatriz de 20 a 30 cm de extensão, portanto, mais sujeitas a complicações e com uma internação de, no mínimo, cinco dias - foram deixadas de lado. "Hoje, com a videolaparoscopia, a cirurgia dura de duas a quatro horas, dependendo da anatomia do paciente, e a internação caiu para dois ou três dias. Os cortes têm apenas meio centímetro e a recuperação no pós-operatório é bem mais rápida", garante o médico.
E não faz falta?
Como a vesícula biliar armazena a bile e a joga no intestino somente quando há necessidade, com a sua retirada o próprio fígado se encarrega de enviar o líquido digestivo. Só que ele faz este trabalho constantemente e não somente quando é preciso. "Depois da cirurgia é comum ocorrer má digestão e diarréia. Estes sintomas podem ser, perfeitamente, controlados com medicação. E esse desconforto é temporário até que o organismo se adapte a esse novo sistema. Daí a digestão volta a se regularizar", tranqüiliza Vitório Kemp.
Normalmente, a melhora no pós-cirúrgico é gradual e constante. E em três ou quatro semanas é possível voltar às atividades normais. A videolaparoscopia facilitou tanto que há médicos que indicam a cirurgia mesmo nos casos que não apresentam sintomas, tentando evitar possíveis crises e complicações pelos cálculos que já estão formados na vesícula e, também, uma cirurgia de urgência, sempre mais arriscada. Mas, médico e paciente fazem essa escolha juntos.
A RETIRADA DA VESÍCULA É UMA DAS OPÇÕES MAIS INDICADAS PELOS MÉDICOS NO TRATAMENTO (INCLUSIVE PREVENTIVO, EM PACIENTES QUE TÊM PEDRAS NO ÓRGÃO, MAS AINDA NÃO SENTEM DORES E OUTRAS COMPLICAÇÕES) DO CÁLCULO BILIAR, POIS O FÍGADO É CAPAZ DE EXERCER SEU PAPEL COM A MESMA COMPETÊNCIA
DIGESTÃO TRANQÜILA
A dieta para quem tem qualquer problema na vesícula ou passou por uma cirurgia, sofre algumas restrições. A principal delas é evitar alimentos gordurosos. Segundo a nutricionista Tânia Regina Bonetti, de São Paulo, entre os principais fatores de risco para distúrbios na vesícula biliar estão a obesidade, grande ingestão de gordura, diabetes não controlado e dietas muito restritivas com grande e rápida perda de peso. "Por isso é importante manter uma dieta balanceada, rica em fibras e pobre em gorduras", avalia a especialista. Veja aqui como controlar melhor a alimentação:
PARA CONSUMIR COM MODERAÇÃO
Leite integral
Queijos amarelos, requeijão
Biscoitos amanteigados, tortas, pastéis, pães folhados
Carnes gordas, lingüiça, embutidos, aves com pele, mocotó
Lanches gordurosos com mortadela, presunto ou salame
Ovos fritos e frituras em geral
Enlatados
Manteiga, maionese
Frutas oleaginosas, como amendoim e castanha-do-pará
Bebidas alcoólicas
ALIMENTOS QUE FAZEM BEM À VESÍCULA
Leite desnatado, café, chá, suco de frutas
Queijo cottage ou ricota, iogurte e coalhada desnatados
Pão integral
Arroz, grãos integrais e macarrão (sem molhos gordurosos)
Frutas (com casca ou bagaço)
Açúcar e mel
Carnes magras cozidas ou refogadas, peixes e frango grelhados
Clara de ovo cozida
Fibras encontradas em grãos integrais e vegetais

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