terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A minha experiência com o cancro da mama



Estávamos em Julho de 2007 tinha 41 anos casada, sem filhos. 
Depois de um dia de praia estávamos de férias no banho descobri um caroço mas como estava com o período julguei que era por isso mesmo. Fiquei preocupada mas pensei em esperar pela próxima menstruação para confirmar se era motivo para continuar receosa. Assim foi!
Em agosto o caroço continuava no mesmo sítio e ao contrário do que é dito este doía ao toque e ao dormir de barriga para baixo. Tinha a minha mãe com problemas de saúde e quis tratar dela primeiro deixando as minhas dúvidas para segundo plano, em Setembro dia 18 a minha mãe sofre um avc que a leva ao hospital onde fica internada uma semana e mais uma vez adiei a consulta, dia 3 de outubro a minha querida mãe vem a falecer.
Fiz luto uns dias, em Novembro marquei uma consulta com a médica de família onde ela assustou-me  bastante dizendo que assimetria das mamas não eram normais. Saí de lá em lágrimas com uma mamografia e ecografia para fazer. Entrei no carro onde estava o meu marido que tentou  acalmar-me  mas a minha cabeça estava a mil, chegámos a casa, foi ele que ligou para as clínicas para saber onde podia fazer o mais rápido possível. Ficou marcado para dois dias depois durante esse tempo o meu marido saía ás 00,00h do trabalho apanhava-me em casa e íamos andar de carro sem destino, em casa eu sufocava...chegou o tão temido dia...já na clínica a espera foi dolorosa olhar para todas aquelas mulheres que faziam os exames como rotina, outras porque tiveram aquilo que eu nem tinha coragem de pronunciar.
Lá dentro a dra estava muito séria a fazer-me a ecografia, eu ansiosa para que  disse-se-me que não se tratava de nada de grave mas não foi isso que se passou...disse que havia qualquer coisa com aparência sólida e que o melhor era dirigir-me ao IPO mas que também podia não ser nada, nesse momento deixei de ouvir...queria sair dali o mais rápido possível. Na sala de espera estava o meu marido à espera que lhe disse-se o mesmo que lhe tinha dito à um ano atrás: que estava tudo bem!
Pedi-lhe para sairmos dali o mais depressa possível, queria poder chorar à vontade sem ninguém me ver.
No dia seguinte, fomos para o IPO para uma consulta de senologia mas como chegámos tarde já não foi possível. Voltámos no outro dia desta vez mais cedo, ainda era noite uma vez que estávamos no inverno, esperámos horas a ouvir todo o tipo de histórias relacionadas com o ... nem queria dizer o nome. Quando estava cansada de tanto esperar e com vontade de me vir embora ouvi o meu nome, entrei nem sei como tive forças para andar, mostrei os meus exames ele viu e disse-me que não via nada de grave senti um alívio mas alguma coisa dizia-me que ainda não era definitivo. Disse-lhe que tinha perdido a minha mãe recentemente, estava a tomar medicação para a depressão e precisava de certezas, ao qual ele disse que ia passar-me uma citologia para fazer ali mesmo no hospital. Fiz e esperei três semanas pelo resultado que ia directo para o dr lá fui à consulta e no resultado aconselharam biópsia, escusado será de dizer que foram dias muito difíceis, noites mal dormidas, falta de concentração, medo de morrer de deixar as pessoas que amava, um misto de sentimentos.
Lá chegou o dia do meu verídico em janeiro de 2008, era cancro com 90% células cancerígenas, cancro ductal invasivo para operar e possivelmente radioterapia.Assinei a autorização para a cirurgia o dr disse-me que devia levar à volta de mês e meio de espera e que espera...uma eternidade.
Nestas alturas é preferível ser logo a nossa cabeça não nos assusta tanto com pensamentos menos bons!
Um dia em casa o meu marido entra e disse: ligaram-me, vi logo do que se tratava, tinha que dar entrada na segunda-feira seguinte de manhã em jejum para ser operada.
Chorei!!!
Ao mesmo tempo que chorava pensava que era para tirar dentro de mim o que não me pertencia. Na segunda-feira lá estava eu ás 09,00h acompanhada do meu marido e de um primo que fez questão de estar presente, obrigado primo!!
Muitas horas com fome nem soro me puseram, a cirurgia estava marcada para as 18,30h por incrível que pareça estava extremamente calma. Fui para o quarto levei uma catrefada de coisas, livro, moldura com a foto da minha mãe queria que ela estivesse presente naquele momento tão importante na minha vida, pijama,  produtos de higiene, etc...conheci outras doentes parte delas estavam pela segunda e terçeira vez a ser operadas ao desgraçado, tinha lhes aparecido outra vez.
Chorei no momento que me despedi do meu marido e do meu primo, mas chorei ainda mais com  vontade de ter a minha mãe ali ao pé de mim a transmitir-me amor e confiança, na hora que me levaram para baixo a senhora que estava ao meu lado ao ver-me a chorar deu-me um beijinho, aquele beijinho era de mãe tudo o que eu queria!
Nunca tinha sido operada. Continuava a chorar, deram-me a anestesia e disseram para pensar em coisas bonitas disse que ia pensar nos meus lindos sobrinhos e apaguei.
Acordei bem disposta e espreitei para aqueles chumaços de pensos na esperança de me certificar que ainda tinha a mama, claro que não podia saber, mas achei que a tinha e na realidade tinha-a mesmo.
Fui para os cuidados intensivos, o meu marido já tinha falado com o cirurgião e tinha recebido a notícia que a gânglio sentinela estava limpo o que era maravilhoso. Fizeram-me quadrantectomia com 150grs o cancro tinha 2,3x20x15mm.
Passei a noite acordada com o barulho dos aparelhos, fiquei junto à janela via os reclames dos hotéis e mais tarde comecei a ver os aviões sabia que, estava a amanhecer e tinha uma fome!
Comi e vomitei disseram que era da anestesia. Fui tomar um banho para me vestir e vir para casa tinha alta.
A recuperação correu bem exceto ter criado seroma,  tive que voltar ao hospital para retirarem com uma seringa. 
Passado umas semanas tive uma consulta para saber o que ia fazer a seguir, sabia da radioterapia só não estava à espera da quimioterapia...quando ouvi a palavra só uma coisa me veio à cabeça...o meu lindo cabelo comprido. Perguntei-lhe se ia cair o dr respondeu que sim, chorei...
Fiz a primeira quimio e fui ao cabeleireiro cortar um pouco mais o cabelo nunca deixei cair naturalmente. Ao décimo oitavo dia começou a soltar-se um pouco mais o meu marido perguntou-me se queria que ele me rapasse a cabeça respondi que sim assim foi...custou-me tanto...ele a cair e eu a chorar. O meu marido quis ser solidário e rapou o dele também.
Lembro-me numa noite estar a tomar banho e ao lavar a carequinha os cabelos que ficam num pente zero fiaram agarrados ás minhas mãos, tinha a cabeça cheia de peladas saí do banho e enrolei um lenço à cabeça e quando o meu marido voltou do trabalho estranhou, quando lhe contei disse que queria ver eu não quis porque estava feia...ele insistiu e disse que eu era linda com ou sem cabelo, aquilo encheu-me o coração.
As outras quimios correram bem sempre nas datas previstas, tive sempre um sorriso nos lábios e enquanto aquele bendito veneno me corria nas veias pedia-lhe para me salvar, fiz sempre questão de me maquilhar para esconder aquela cara de doente que todas ficamos, pintava as unhas para esconder o amarelado e tinha lenços de várias cores para dar com as roupas.
Comi muitas vezes fora era mais fácil para mim uma vez que não enjoava, só nas duas últimas químios é que vomitei porque tinha aquele sabor metálico como lhe chamava, na boca, passava o tempo a comer para disfarçar.
Engordei dez quilos. Tinha um mau-estar geral, dores no corpo, enjoo, sono, uma fraqueza...cheguei a pensar muitas vezes em desistir...era o desespero da dor. Mas as forças chegavam sempre não sei de onde...ou talvez saiba! Era com elas que conseguia passar dia após dia!
Até que veio agosto e com ele a minha última quimio mais uma etapa ganha. Comecei a tomar o Tamoxifeno que será por cinco anos.,em setembro iniciei trinta e duas sessões de radioterapia diárias, de segunda a sexta excepto fins de semana. Não tive muita sorte...a pele começou a queimar e tive que fazer pensos todos os dias, tinha muitas dores. Terminei a radio e a pele começou a cicatrizar outra etapa vencida. Os únicos sintomas da radio era o cansaço que sentia, queria estar mais activa a cabeça dava ordens mas o corpo não reagia.
Numa consulta de rotina soube que era Her2+ receptores de estrógenios: positivos(100%) e receptores de progesterona: positivos(70%)e que teria de fazer mais um tratamento de três em três semanas era tomado na veia na sala de quimio, chamava-se Herceptin mais um mal necessário.
A meio do tratamento fiquei hiper-tensa e com o coração intoxicado, foi detectado com um exame chamado Arne o coração envelheceu mas era reversível segundo o dr.
Fiz durante doze meses e tive que parar interromper os seguintes meses.Depois de todos estes tratamentos fui recuperando aos poucos, menos o peso esse manteve-se.
Tive consultas de três em três meses, agora passado alguns anos faço de seis em seis. Cada vez que faço mamografia e eco é um stress e um medo...acho que vai durar para sempre!
Janeiro de 2012 fiz recontrução melhoraram a cicatriz da mama operada e diminuição da outra. Em março deste ano 2013 vou fazer mais uns retoques. Faz cinco anos que fui operada e se tudo correr bem em agosto termino o Tamoxifeno.
Depois logo vejo quais são as indicações médicas.

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