sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Para a Marieta MIGUEL ESTEVES CARDOSO


Anteontem morreu a nossa gata Marieta. É impossível não pensar nela. Vivia connosco desde 1998 e era pouco maior do que quando era pequenina. Era uma persa-tartaruga elegante, resmungona e selectiva. Quando a Marietagostava de uma pessoa ou de um gato (o Agostinho), gostava com o coração todo e não vacilava.
Era uma grande amiga e uma grandiosa inimiga. Quando não gostava de uma pessoa (toda a gente) ou de um gato (todos os gatos, especialmente oCasimiro), toda ela se transformava num diabrete de snobismo, desprezo, nojo, violência e assanhamento.
Nunca conheci um bicho mais meiguinho ou mais doido por festinhas e companhia. Nunca se ia embora. Ia-se derretendo. Virava-se e oferecia a fofura da barriguinha. Babava-se de tão contente. Era a imperatriz da sensualidade. Quando esteve com o primeiro cio, antes de ser esterilizada, a fúria sexual dela era avassaladora. Não sabia que coisa era a timidez, a vergonha ou o fazer-se cara.
Era uma brincalhona séria: compreendia, como poucos gatos e nenhum cão, que brincar é um bem de primeira necessidade. Não se divertia quando brincava: empenhava-se e tentava vencer, não descansando enquanto não vencesse.
Todos os dias muitos seres humanos perdem não apenas a companhia como a presença e a existência dum ser melhor do que o humano com uma personalidade menos apessoada e fingida do que a nossa.
Marieta era uma dessas pessoas. Que choramos: agora somos nós os que chamamos por ela. E ela não vem.
 

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