domingo, 24 de julho de 2011

Portugueses desvendam a formação das células T


Estudo pode ajudar a desenvolver ferramentas de combate ao cancro

2011-07-22
Por Carla Sofia Flores
Joana Neves, co-autora do estudo
Joana Neves, co-autora do estudo
A protecção do organismo humano contra potenciais perigos, como infecções ou cancro, passa pelo desempenho das células T, um tipo de glóbulos brancos com importantes funções no sistema imunológico que são produzidas no timo, um órgão situado sobre o coração. O estudo destas células é assim fundamental para abrir perspectivas sobre a sua manipulação, tendo em vista novas imunoterapias contra determinadas doenças.

Uma equipa constituída por investigadores portugueses (Joana Neves, da Universidade Queen Mary em Londres, e Bruno Silva-Santos, do Instituto de Medicina Molecular em Lisboa) e britânicos deu mais um passo nesse sentido, ao elucidar um processo fundamental na produção de células T.

“O seu desenvolvimento é complexo e envolve várias etapas. As células recebem sinais através de um receptor/proteína situado à sua superfície que lhes permite progredir para a etapa seguinte, até estarem prontas para combater bactérias/parasitas. O nosso trabalho focou-se nas fases iniciais”, revelou ao “Ciência Hoje” Joana Neves, investigadora da Universidade Queen Mary em Londres e co-autora do estudo publicado na revista “Science Signaling”.
Neste sentido, a equipa de cientistas luso-britânica revelou que os sinais de sobrevivência e maturação requeridos pelos progenitores das células T derivam directamente da abundância de proteínas (receptores) específicas que existem à sua superfície. Trata-se de uma descoberta que revoluciona o paradigma prévio, segundo o qual era necessária a agregação destes receptores a outras proteínas presentes noutras células de suporte.

“Havia resultados que não podiam ser explicados segundo este modelo vigente”, referiu a investigadora, acrescentando que, por isso, “o modo como os receptores iniciam o envio de sinais para o interior da célula não estava totalmente esclarecido”.

Joana Neves
Joana Neves é licenciada em Bioquímica pela Universidade do Porto.

Fez parte do programa doutoral “PDBEB” da Universidade de Coimbra (2006) e realizou o seu projecto de doutoramento sobre o desenvolvimento de células T sob a orientação de Daniel Pennington, na Universidade Queen Mary em Londres, em colaboração com Bruno Silva-Santos (Instituto de Medicina Molecular, Universidade de Lisboa).

O seu pós-doutoramento na área da inflamação intestinal realiza-se no laboratório de Richard Blumberg na Harvard Medical School (Boston, EUA).
De acordo com Joana Neves, para testar novas hipóteses e clarificar quais os processos essenciais para a produção destas células imunitárias, foram desenvolvidas células T “em situações em que os receptores foram modificados de forma a não serem capazes de se agregar nem de se ligar a outras proteínas”.

As novas conclusões, permitiram esclarecer quais os requisitos necessários para os receptores começarem a enviar sinais para o interior da célula T progenitora e assim permitirem a sua sobrevivência e maturação. “Nós elucidámos que este processo de iniciação da transdução do sinal é mais simples do que anteriormente descrito dependendo apenas da expressão dos receptores à superfície da célula e não de outros processos como a agregação dos domínios extracelulares dos receptores ou da sua interacção com outras proteínas presentes noutras células”,frisou.

Os resultados obtidos neste estudo são, na opinião da bioquímica portuguesa, “essenciais” para se poder “manipular a maturação e as funções destas células imunitárias e assim conseguir, de uma forma eficaz e segura, usar as células T como ferramentas para, por exemplo, o combate de células cancerígenas”.

Este trabalho foi realizado pelo grupo do Daniel Pennington, na Universidade Queen Mary em Londres, e resultou da colaboração com Bruno Silva-Santos, do Instituto de Medicina Molecular. “As relações entre estes dois grupos são bastante próximas e cientificamente produtivas sendo este já o segundo artigo de elevado impacto publicado no espaço de dois anos resultante desta colaboração”, destacou Joana Neves.

O estudo anterior, que foi publicado na “Nature Immunology” em 2009,  permitiu identificar e controlar células imunitárias para as fazer actuar contra infecções e não para promoverem doenças auto-imunes. Foi também noticiado no “Ciência Hoje” e pode ser lido aqui.

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